terça-feira, 1 de abril de 2008

Saudosismo Madrileño

Vocês dificilmente verão um post semelhante à este aqui neste blog. Não costumo fazer isso, mas de repente um estranho saudosismo invadiu a minha alma e despertou a minha curiosidade para saber o que exatamente estava fazendo há um ano atrás.
Como poderei voltar ao passado? Eu escrevo diários. Sempre digo a um amigo meu que diários são tesouros do passado, tesouros secretos. Geralmente atravessam a posteridade sem que ninguém tome conhecimento, pois são geralmente muito íntimos. Mas quando a invasão é concedida, é mais do que lícito. Coincidentemente, foi nessa mesma época do ano que escrevi algo bastante descritivo sobre o lugar em que estava morando. Relendo as minhas anotações, pude magicamente reviver sensações e imagens daquela tarde de 29 de março. Por isso peço licença para dividi-la com vocês, mas é claro, com alguma censura.
"Viernes, 29 de marzo de 2007
Valle! Me sinto autenticamente uma Bridget Jones neste momento! Bridget não, talvez Becky se encaixaria melhor, já que como de costume, nesta minha vida fácil Madrileña, passei a tarde inteira perambulando vagamente pela cidade. Devo mencionar que encontrei a "rua dos sapatos" aqui em Madrid. Mas sinceramente, esses espanhóis tem algum problema com os sapatos! São todos horríveis! Sem frescurite, entrei em umas 40 lojas (sou atoa, ou não sou?)... e nada! Os couros são todos falsos. A modelagem, patética! Me sinto cercada por "bronxs" e "mustangs", de verniz vermelho e azul, naquela frente redonda péssima! Não vale o investimento. Hm, confesso que em uma dessas lojas, por um instante, o meu coração parou: entremeio todos aqueles sapatos tristes, de repente vejo um Schutz!! Ah, que maravilha!! Mas por 70E, é mais caro que no Brasil! Descobri uma verdade incontestável também: moda bonita e de bom gosto, é, indubitavelmente, a moda brasileira. Ah! Como amo esse meu Brasil. Com todas as suas roupas, praias, calor humano, cultura diversificada, a Bahia! Belo Horizonte! E o sul... que se assemelha de fato com este ar europeu. Isso sem falar no povo. Esse povo tão caloroso e humano! Saudades de tudo. Da minha família, dos amigos, dos churrascos, das festas de interior... E sobretudo da inocência que ainda vive em nossos corações. O Brasil ainda é um país lúcido, jovem e cheio de sonhos. Nossa música, nossa TV, nossa literatura... apesar de todos os problemas, são ainda indiscutíveis e insubstituíveis.
E essa Europa aqui tão velha. E tão... suja!
Confesso entretanto tecer sentimentos de carinho e gratidão para com essa Madrid! Deve ser aquele arzinho de "vou te deixar", né? Estou há alguns meses aqui já... nessa experiência que chegou meio de surpresa. Essa imagem de prédios velhos, ruas estreitas e pessoas passantes vão habitar a minha mente para sempre. Os Europeus, a grosso modo, são uns coitados na verdade. Tão frios e individualistas! Essa coisa de todo mundo muito igual é certo, mas ao mesmo tempo, desestimulante. Cada um vivendo a sua própria vida, sem olhar muito para o lado. E tem os velhos... tão infelizes! Estou encantada em saber que em tão pouco tempo vou poder levar comigo uma bagagem de percepções formidáveis.
(Agora há uma parte censurada)
...
Mas voltando ao assunto inicial dessa conversa, já que rotineiramente desvio do caminho, disse que me sinto uma Bridget (*Bridget Jones e Becky Bloom são duas heroínas fictícias dos meus livros de romance), porque finalmente hoje cumpri a promessa que me fiz desde que cheguei à esta cidade. Sentar em uma dessas mesinhas encantadoras ao ar frio e livre da Starbucks, e tomar um café-com-leite-acanelado a "La Miranda Priesly". Risos.
E escrever no diário!
Devo mencionar que, como toda fantasia da vida real, tudo agora me parece um pouco menos glamouroso à aquilo que tinha imaginado. O café é bom, mas tive que esperar torturantes minutos em pé para conseguir esta mesa. E quando finalmente consigo, como não poderia deixar de ser, a lei de Murphy resolve agir e inúmeros grupos de pessoas resolvem se levantar conjuntamente. Inúteis!
Então aqui estou, sentada num frio da porra, com vontades remanescentes de acender um cigarro. O que me torna uma pessoa ainda mais patética, já que não fumo. Dios Mío, toma conta dessa pobre mente fértil!! Fique tranquila mamãe, não acenderei o cigarro. Ele foi apenas uma metáfora, já que achei que café, Starbucks, diário, pensamentos e cigarro seriam uma boa combinação.
Depois desse dia vago de compras não consumidas, graças a Deus, termino aqui. Dou graças a Deus porque penso que tenho realmente um estranho problema com as compras. Será o meu meio de escape? Whatever!, a questão é que agora vou começar a falar .... (censurado)
Brrr, que frio! O brasileiro que acha o frio europeu "chic", não sabe o que está dizendo! Esse vento cortante e impiedoso é altamente depressivo. E depois tem todas essas pombas, que insistem em emporcalhar o chão e espalhar doenças. E já repararam como as pombas européias são folgadas? Elas nem ligam para você! Aposto que este também é um reflexo animal do 1º mundo! Odeio pombas!
Bom, o café esfriou e o meu corpo também. É melhor eu voltar para o aquecedor terno do Hostel, aonde todos devem estar pensando que morri, já que já passa das 9 da noite. Adiós Madrid! Foi bom passar este tempo com você! Eu certamente nunca me esquecerei do seu estilo peculiar e de avenidas como a Fuencarral, que sempre me levaram para casa. Seremos eternas companheiras, tenho certeza."
Bom, é isso. Tive que censurar algumas partes, é óbvio, mas acho que deu pra ter uma boa idéia sobre os meus sentimentos pela cidade. Particularmente para mim, é ainda mais delicioso reviver isso. Aiai, que vontade de viajar!

Um comentário:

joy.ce disse...

Priiiima tá maravilhoooooso seu blog... Que foto linda é essa do Taj Mahal!! Adoreeeei
aiai tenho que tirar mais tempo pra apreciar seus escritos!!!!! Adoro lê-los!! rs

Passei rapidim pra "dar akela espiadinha"... mas eu volto!

Beijuuus